quinta-feira, julho 18, 2013

Livro da semana: Jaime Bunda, agente secreto

“Jaime bunda, agente secreto” até agora é o melhor livro que já li este ano. Digo até agora, pois ainda falta muito para o ano terminar, mas sinceramente eu não estou a ver outro livro (dos que eu tenho) ser melhor que “Jaime bunda, agente secreto”. Há 15 anos atrás lembro-me que tinha comprado vários livros de escritores africanos e penso que Pepetela estava incluído entre eles, porém não me lembro se cheguei a ler algum livro desse maravilhoso escritor, se eu tivesse com certeza recordaria, pois Pepetela é um escritor a repetir. “Jaime bunda, agente secreto” é um livro engraçado de coisas sérias, o que mais me chamou atenção no livro foi o seu título, pois com um título destes tinha que o ler. Eu gosto quando os escritores usam o humor para criticar, pois se não pudermos chorar ao menos podemos rir da nossa desgraça.

  
Plot: Jaime Bunda é um estagiário dos SIG (serviços secretos angolanos) que é chamado para investigar a morte de uma “quatorzinha” de um bairro pobre de Angola. Este será o seu primeiro caso, por isso tenta a todo o custo causar uma certa impressão ao seu chefe, que tem uma certa dúvida da inteligência do agente. Mas o que começa por ser um caso de homicídio, acaba por tornar-se numa investigação criminosa importantíssima, do mais alto gabarito, com riscos enormes para a economia do país. Entre casos e acasos, o nosso agente a lá James Bond consegue se envolver em situações ainda mais perigosas e conspirações envolvendo pessoas de certa importância do governo. 



 Apesar de a estória centrar em Jaime Bunda, este não será o único a desempenhar um papel importante, pois além dele, temos outras personagens como o temível e sinistro individuo conhecido pelo nome de T, a bela e sedutora odaliscas das arábias, a Malika, o D.O responsável pela contratação do parente (Jaime Bunda), o Armandinho, que tinha certa fascinação pela bunda avantajada do nosso querido Jaime Bunda (daí advém o nome), ou mesmo a linguaruda tia Sãozinha. Através destas e outras personagens, Pepetela nos dá a conhecer a Angola, Angola com a sua pobreza, as suas riquezas de diamantes, as suas mulatas, superstições e principalmente a sua corrupção. Pepetela consegue com maestria denunciar a sociedade angolana com tanta ironia que nos é impossível não rir das situações bizarras e ridículas que nos é apresentada. 


A escrita como já disse é irónica, jocosa, satírica, caricata e dinâmica. O escritor repreende o narrador, tem um aparte connosco, nós os leitores, troca de narrador no meio do livro para depois voltar com um narrador semelhante ao primeiro. Mas toda esta troca de narradores tem um propósito e é explicada pelo escritor, como mais à frente nos dá a conhecer. 


Não quero entrar muito na estória para não dar spoiler, mas Jaime Bunda será uma das personagens a recordar, tanto pelo seu apetite acima do normal ou pelo seu ar de “armar-se em chefe”, que fará muitos a rir. Depois deste livro, fiquei com uma vontade enorme de ler a sequela “ Jaime Bunda e a morte do americano”. Despois deste livro, sem sombra de dúvida Pepetela entrou para o “roll” dos meus escritores favoritos. Aguardando agora para ler: “Jaime Bunda e a morte do Americano”:


"Então não havia o Afeganistão, a Somália, o Irão ou a Colômbia, países ideais para um americano morrer de morte matada, sem levantar muitas comoções nem pasmos, pois eram territórios já habituados a serem tratados de promotores e antros de horripilantes anti americanismos? Aí tanto fazia, mais um menos um, não provocava qualquer crise mundial. Porque iria logo escolher a pacífica Benguela, onde, de memória de gente, nunca nenhum americano tinha morrido, nem mesmo quando os ianques andaram a apoiar, abertamente ou de caxexe, os famigerados terroristas, linguagem oficial de um dos lados, lídimos e heróicos defensores da democracia no dizer do outro lado? Mas foi isso que aconteceu, o engenheiro gringo bateu subitamente a caçoleta na pachorrenta cidade das acácias rubras, para grande tristeza e preocupação dos governantes, locais e nacionais, e perante a indiferença da maioria da população, ocupada na legítima e cada vez mais problemática azáfama de sobreviver."

Nota: 10/10

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